by Rute Ferradeira Serrano
cresci com uma veia forte de feminismo caseiro. ter o amor e filhos sempre esteve nos meus sonhos, mas ser apenas eu a cozinhar, pôr a casa a brilhar, bater bolos nos aniversários, ou mesmo mandar, junto com outras pequenas e grandes coisas que se devem partilhar ou podem comprar apenas pela eventualidade da criança ficar com o totó torto ou sem a peça mum-home-made, quando a posso comprar sem trabalho? hum.. nop!
![]() |
Vai um bolinho? |
mas um dia olho ao espelho e não me reconheço. olhei melhor, OH, AFINAL.. claro que conheço, sou a Martha Stewart (versão revista e não-otimizada).
percebo que o faço por amor. pensei no último aniversário da miúda com todos os direitos – tema preferido revisto em vários pormenores, 35 pessoas presentes mesmo eu estando a amamentar a cada duas horas. uns identificadores das comidas que me esqueci de colocar, e as ofertas para os miúdos (bolachas de oreo com stick, cobertas de chocolate e com uma pegada em glacé rosa), achei que para solidificar, devia ir ao congelador, em vez de ficar sólido, congelou. depois de fazer a pegada, esta não secou e o resto.. derreteu-se. quando o primeiro casal foi-se embora, o marido disse “espera que ainda falta uma lembrança..” e eu “ah.. não, não.. esquece, não deu”. o casal não nos voltou a telefonar.
e percebo que há ainda as coisas que faço por imitação. Cresci com a minha mãe e tia a cortarem-nos o cabelo. eu via a fazerem-no e decidi que tinha aprendido imenso a vê-las. depois a filha mais velha, que nasceu carequinha, começou a ter uns cabelitos a quererem tocar nos olhos e pensei “eu consigo!” sentámos a miúda num banco, enrolada a uma toalha, o pai atrás, de joelhos no chão, para a agarrar. iniciei. felizmente, o meu instinto gritava “GO SLOWLY”. e muito slowlymente, foi ficando torto, em bico, eu queria que a tesoura fizesse uma recta horizontal. cheguei a olhar para a lâmina da tesoura, não fosse eu ter-me enganado e estar a usar uma tesoura de craft com zig zag. marido à gargalhada, eu à gargalhada, miúda divertida. mesmo com o cabelo já bastante molhado (sim, iniciei com ele praticamente seco), teimava em não conseguir fazer aquilo que na minha mente parecia tão simples. às tantas digo ao marido “acho que já cortei uma pontinha em todo o lado.” o marido olhou-a de frente e… “parece um monge!”.
![]() |
Ups… |