Não tenho muitas pessoas a quem possa recorrer.
Mas tenho algumas, poucas e boas, que ligo a qualquer hora e aparecem.
São familia, o que, no meu caso que tentei uma vida inteira não depender dela, é, no mínimo, irônico... além de uma grande lição.
É o meu pai e a minha boa-drasta (recusa a ser chamada de madrasta ou avó! mas é a primeira a bater-me à porta se sabe que algo não está bem :p)
E são os meus avós. Sim, os meus avós. Tenho a sorte de ter avós mais ou menos novos, 79 e 83, consequência de uma mãe que o foi aos 17 anos.
Fui criada e cresci com eles. Conheci o Brasil de Norte a Sul com eles. Aprendi o que era alguém te ligar todos os dias quando estavas no estrangeiro. Soube o que era receber um leitão por correio e Londres...
Muitas vezes é a eles que ligo e, mesmo com dificuldade de subirem 3 lances de escadas estão cá sempre que preciso, confesso que, eventualmente, mais para ver a mini-neta que a mim :)
Mas hoje foi giro. Porque se tornou hábito virem ao fim-de-semana. Sendo que hoje me foi acrescentada a dica: "se precisares de ir a algum lado não vamos contigo! ficamos com a Clara em casa!"
Eu precisava de ir ao supermercado. "Aproveita até porque está tudo a 50%!" disse-me a minha avó, caso eu estivesse em dúvida.
Fui. Voltei. Eles partiram.
E, de repente, percebo o que é ter bisavós:
é aprender que se deve ter algo "ao peito" para "não ficar doentinha" e que o peito "é aqui"
é aprender a fazer legos versão torres-gémeas-versão-artistica-com-galinheta-a-arrematar com o avô "que se transforma em lobo, sabias mamã?"
Hoje o sentimento é agridoce: é doce porque consegui que ela construa memórias com os bisavós mais loucos de sempre. É amargo porque, nesta idade, não sabes quando vai acabar...