Depois de sermos mães, a vida, toda a vida, e tudo na vida fica interrompido. (sim, tudo! :p)
Aprendemos a fazer tuso pela metade. Ou várias metades. Ou até em décimos de partes.
Xixi? interrompido.
Banho? Só à gato. Bocados de gato, claro.
Sono? Aprendemos em tornar a noite em 10 bocados de sono.
Ler um livro? À meia página. De cada vez.
Falar ao telefone? Parece uma coisa do tempo da II Guerra Mundial. (Hã? O quê? Querias dizer o quê?!)
Ter uma conversa? Já só lhe chama conversa quem é muito optimista. São, na verdade, excertos de palavras agregadas juntas sobre temas absolutamente diversos.
Jantar? É mais uma soma de mastigadelas várias.
Sentar na toalha de praia? Nem chega para aquecer. Não fosse irónico por estar um calor do caraças.
Estava, neste sábado, a jantar com uma amiga com uma filha da idade da Clara. Que, inevitavelmente, me pergunta pela minha vida amorosa.
Sentámos e levantámos 10 vezes. Depois do jantar estar na mesa e as crias alimentadas, claro.
Falta água.
Falta xuxa.
Falta um brinquedo.
Não se ouve bem.
Falta qualquer coisa.
Falta chorar só mais um bocado.
Falta um beijinho à mamã.
E outro.
Quando finalmente nos sentámos para jantar eu disse-lhe:
Qualquer novo envolvimento romântico teria ter de ser alguém que tinha estado, 1 hora á espera de jantar, com o jantar servido à frente, a começar, sem terminar, 20 conversas, e a ouvir 20 vezes eu ser chamada para todos aqueles assuntos suuuper urgentes das crianças, como "tenho ranhosa, podes limpar?"*
Olho para mim e sorriu. Piedosamente. E acho que nesse dia percebeu que amava mais do que sabia o seu marido.