Não me perguntem porquê, mas nesta fase da minha vida tenho sentido que dar voz aos sentimentos é libertador e até enriquecedor.
Não é o mesmo que dizer que tenho o direito de dizer tudo o que penso porque "sou assim". É diferente, é algo que parte mais de uma relação sincera com os sentimentos, e de um assumir do nosso lado mais frágil.
Neste fim-de-semana permiti-me, pela primeira vez, assumir que me sabia bem estar sem a minha filha nos dias que ela vai para o pai. Assumi-lo a quem? perguntam vocês.
Assumi-lo a mim própria. Porque, às vezes, somos nós as nossas próprias inimigas que não se permitem sentir cansaço, pedir ajuda ou ouvir a mulher que já existia antes de sermos mães.
Decidi então que ia pensar em vários sentimentos que já tive vergonha de assumir e escreve-los a todos. Na esperança de nunca mais ter vergonha de nenhum sentimento:
1. Só passados 2 anos de ser mãe é que consegui voltar a olhar para o sexo como antes.
2. Há dias que gostava que a minha filha adormecesse mais rápido só para eu estar um bocado sozinha.
3. Há dias que a deixo ver iPad só para eu poder ver o que quiser na TV.
4. Às vezes, os abraços e os beijos que lhe dou são por mim e não por ela.
5. Há dias que acho que deixei de saber viver sem ela.
6. Há dias que não a deixo brincar com certos brinquedos só para eu não ter de os arrumar.
7. Demorei 3 anos a conseguir conversar com um homem sobre algo que não envolvesse a minha filha.
8. Demorei 3 anos a voltar a sentir-me bonita.
9. Luto arduamente para não julgar mães nem comparar crianças mas às vezes falho.
10. Escrevo aqui todos os dias mas nem sempre consigo dizer verdadeiramente o que sinto, por achar que exporia a minha verdadeira fragilidade. Estão à vontade para perguntar :)